segunda-feira, 14 de julho de 2014

BRASILEIROS DE ORIGEM ALEMÃO DURANTE A SEGUNDA GUERRA MUNDIAL


14/07/2014 06h59 - Atualizado em 14/07/2014 06h59

Descendentes de alemães lembram perseguição no RS na 2ª Guerra

No estado, casas, lojas e igrejas foram os principais alvos da revolta.
Famílias inteiras precisaram fugir e se refugiar em comunidades próprias.

Do G1 RS
A entrada do Brasil na Segunda Guerra Mundial deu início a uma onda de violência contra imigrantes germânicos por todo o país. Após ataques a 6 navios na costa brasileira em 18 de agosto de 1942, a população saiu às ruas e destruiu estabelecimentos que tinham alguma ligação com os países considerados inimigos, como a Alemanha. No Rio Grande do Sul, casas, lojas e igrejas foram os principais alvos da revolta.
Os imigrantes alemães foram perseguidos e muitos acabaram sendo torturados. Famílias inteiras precisaram fugir e se refugiar em comunidades próprias, conhecidas como colônias e que até hoje mantêm a cultura germânica. A língua alemã e os cultos luteranos foram proibidos. A torre de uma igreja em Cerrito, que na época pertencia a Pelotas, na Região Sul do estado, foi derrubata com dinamites.
Aposentado Helmut Roll lembra de perseguição em 1942 (Foto: Reprodução/RBS TV)Aposentado Helmut Roll lembra de perseguição
em 1942 (Foto: Reprodução/RBS TV)
"Na antena da igreja, diziam que o para-raio servia como rádio para se comunicar com a Alemanha", lembra o aposentado Helmut Roll.
Em Pelotas, o clima de medo se espalhou pela cidade. Muitas famílias deixaram suas casas, que foram invadidas. Os moradores pegaram poucos alimentos, alguns cobertores e fugiram para o mato. Era inverno, fazia frio, e algumas pessoas permaneceram escondidas em matagais por até duas semanas.
"No mato, eles tinham que ficar em silêncio total. Na época, as famílias tinham muitos filhos. Precisavam abafar o som das crianças para elas não chorarem. Todos tinham muito medo de serem pegos", relata a agricultora Glessi Vellar Hepp.
Os assentamentos construídos pelos imigrantes alemães perseguidos transformaram-se em colônias penitenciárias. Qualquer descendente que quisesse se deslocar para outro local precisava comparecer na delegacia e pegar um salvo-conduto. "O direito de ir e vir dessas pessoas foram confinados e aprisionados pela polícia. Houve uma criminalização dos alemães", comenta José Plínio Fachel, historiador autor de uma tese de doutorado sobre a época.
Depois da guerra, o governo brasileiro reconheceu e indenizou algumas famílias. A viúva de um dos comerciantes que perdeu praticamente tudo diz que o discurso do marido era de paz. "Ele nunca falou em ódio. Só contava que poderia ter salvado mais coisas", relembra Hilma Tessmann. A bisneta do comerciante Pedro Steffen Munsberg relata que o bisavô foi preso e torturado dentro de uma igreja sob acusação de transportar armamentos de origem alemã até o local. "Ele era a única pessoa na época que possuia um caminhão, que servia para carregar mercadorias e também para o transporte de pessoas", conta Adriana Munsberg. A família ainda tenta provar na Justiça que Pedro foi morto após ter sido torturado.
Torre de igreja foi derrubata com dinamites (Foto: Reprodução/RBS TV)Torre de igreja foi derrubata com dinamites (Foto: Reprodução/RBS TV)
Um morador de Cerrito era criança mas ainda guarda as lembranças da época. Após ver a igreja ser demolida, ele ajudou a refazê-la. "Ela foi queimada, mas depois reconstruída com a ajuda da comunidade", lembra Ervino Hepp.
"O Rio Grande do Sul viveu uma onda de barbárie. Os descendentes de alemães que não seguiam a cultura e o catolicismo eram chamados de hereges. Isso até hoje reflete em um atraso econômico para a região Sul do estado", conclui o historiador José Plínio Fachel.

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