Vai começar o G20 e os preços da soja vão mudar. E o Brasil?
Publicado em 29/11/2018 16:24
A reunião G20 começa, finalmente, nesta sexta-feira, 30 de novembro, na Argentina e irá promover o tão esperado encontro entre Donald Trump e Xi Jinping, deixando os mercados ainda mais ansiosos. As expectativas? São as mais diferentes possíveis e não dão qualquer sinalização efetiva do que poderia acontecer depois de se reunirem os líderes das duas maiores economias do mundo.
Para especialistas, um acordo entre os dois que pudesse colocar fim à essa guerra comercial ou ao menos amenizá-la parece estar distante. O discurso dos dois presidentes se endureceram nos últimos dias e, de acordo com especialistas internacionais, a relação que já está bastante desgastada poderia ficar ainda pior.
Em um dos principais focos da disputa está a soja. Embora no contexto amplo e geral da guerra comercial esse seja apenas um pequeno ponto entre as pautas que chineses e americanos têm a discutir, para o Brasil, essa é uma discussão de extrema importância e que irá continuar definindo a dinâmica do comércio da soja.
Desde o início do conflito, a nação asiática focou suas compras no mercado brasileiro e os volumes embarcados nos portos nacionais têm batido recordes mês após mês. No acumulado da temporada, as exportações de soja do Brasil já totalizam quase 79 milhões de toneladas e, caminhando nesse ritmo, podem passar de 80 milhões no ano. O número já supera todas as estimativas para a temporada.
Dados da Administração Geral das Alfândegas da China divulgou, nesta semana, que em outubro as importações chinesas de soja brasileira foram de 6,53 milhões de toneladas, contra 3,38 milhões do mesmo mês de 2017. O volume corresponde a 94% do total importado pelo país.
Neste contexto e às vésperas de decisões importantes que podem sair do encontro de cúpula do G20, outro questionamento importante é: o que isso significa para o produtor brasileiro de soja? As relações parecem simples, porém, os impactos são agressivos. Mas é claro, os possíveis cenários não são todos ruins.
Aliás, consultores e analistas de mercado afirmam que devermos ter um 2019 de preços, pelo menos, sustentados no Brasil. Xi e Trump que se acertem.
São basicamente três cenários possíveis até este momento: a definição de um acordo, a não definição de um acordo, e a não definição de um acordo, mas com a continuidade das negociações.
Com Acordo
Firmado um acordo entre chineses e americanos, os preços da soja poderiam voltar a subir na Bolsa de Chicago, motivados pela possibilidade uma melhora da demanda chinesa pela soja norte-americana. Com um consenso, os compradores poderiam diluir suas aquisições e se voltar à soja dos EUA, uma vez que, com os atuais patamares e sem a taxação, a oleaginosa se tornaria mais competitiva frente à brasileira.
Além disso, o movimento poderia ainda provocar alguma pressão sobre os prêmios pagos pela soja brasileira. Para os analistas, no entanto, essa baixa poderia ser compensada pelas altas na CBOT e manter os preços pagos pela soja do Brasil ainda em bons níveis.
Como explicou Carlos Cogo, diretor da Carlos Cogo Consultoria Agroeconômica, é importante lembrar, no entanto, que mesmo com um acordo firmado o comércio entre os dois países não voltaria a normalidade no dia seguinte, ou nos mesmos patamares em que ocorria antes do início da guerra comercial. E essa também deve ser outro fator de influência sobre o andamento das cotações pós-G20 caso saia um acordo.
Sem acordo
Do mesmo modo, se os dois presidentes não chegarem a um acordo, os prêmios pagos pela soja brasileira podem voltar a subir, mesmo que não aconteça na mesma intensidade que foi registrada neste ano. Entretanto, os valores deverão ser, invariavelmente, melhores para o produto do Brasil caso um consenso não seja definido.
Com isso, a disputa pela já restrita soja brasileira entre as demandas externa e interna poderia ficar ainda mais acirrada, e as indústrias também tendo que pagar mais pelo grão para mantê-lo no Brasil e garantir sua matéria-prima. Afinal, a demanda internacional por farelo e óleo brasileiros também é forte, além da maior utilização de óleo de soja no óleo diesel, o que intensifica o consumo interno da commodity.
Por outro lado, nesse quadro, os preços da soja na Bolsa de Chicago poderiam cair ainda mais - ou até mesmo manter sua estabilidade em algum momento - estimulando o produtor norte-americano ainda mais a reduzir sua área destinada à soja na temporada 2019/20. O mercado já especula sobre isso e os agricultores afirmam que essa é uma decisão tomada.
Sem acordo, mas com negociações em andamento
Há ainda uma terceira vertente, existe o cenário em que um acordo pode não ser fechado, mas que mesmo assim as negociações continuem. Nesse caso, os preços estariam sujeitos a manter sua volatilidade na Bolsa de Chicago, além de manter o produtor americano retraído em suas vendas à espera de um acorco, tal qual poderia aumentar as incertezas sobre a área de plantio nos EUA na próxima safra.
"O mercado nas últimas duas ou três semanas têm permanecido muito volátil em decorrência dessa guerra comercial e desse encontro que acontece entre os dois presidentes no G20 (...) O mercado está trabalhando com essa percepção de que não haja novas sanções, novas punições. E de repente, no decorrer dos próximos meses, que as conversas evoluam e as barreiras serem retiradas aos poucos", diz o chefe do setor de grãos da Datagro, Flávio França.
Muito mais do que uma guerra comercial
Para Karishma Vaswani, correspondente da BBC na Ásia, há alguns fatores que indicam que um consenso não será alcançado. Entre eles estão:
A China querer mais controle sobre as relações comerciais entre os dois países, principalmente na maneira em que limita o acesso das empresas estrangeiras e seus investimentos no país asiático.
"Existem restrições ao investimento direto em setores que vão desde autos até serviços financeiros e telecomunicações. Isso dificulta que as empresas estrangeiras invistam na China e que vendam seus produtos para clientes chineses sem fazer um empreendimento conjunto de algum tipo", diz Karishma. E é nesse momento em que as disputas por propriedade intelectual se intensificam.
Há pouco espaço para um avanço considerável das negociações. Recentemente, Trump declarou que poderia, inclusive, aumentar as taxações sobre os produtos chineses, depois de seu vice, Mike Pence, já havia sinalizado algo bastante semelhantes. E às vésperas do encontro, o diretor do Conselho Econômico Nacional dos EUA, Larry Kudlow, afirmou que um acordo não seria possível, a menos que "questões de roubo de propriedade intelectual, transferências forçadas de tecnologia e barreiras tarifárias e não tarifárias" fossem resolvidas.
Fato é que, acima de todos esses fatores, esta a situação de que essa é uma disputa que vai muito além do comercial. As diferenças geopolíticas e conflitos velados de anos estão vindo à tona e intesificando essa disputa. "Então tem sido um passo à frente, dois passos atrás. Em qualquer negociação, ambos os lados precisam se afastar, sentindo que ganharam alguma coisa, caso contrário, uma transação não ocorrerá", diz a correspondente da BBC.
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Por: Carla Mendes
Fonte: Notícias Agrícolas
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