A produção de soja, antes restrita às terras da região Sul e aos cerrados brasileiros, começa também a prosperar em pleno semi-árido nordestino. No município cearense de Limoeiro do Norte, distante 200 quilômetros de Fortaleza, a fazenda Saedo inicia, em duas semanas, a colheita do grão numa área de 200 hectares irrigados com sistema de pivô central.
A tentativa de produzir soja em terras cearenses começou no segundo semestre do ano passado, numa área experimental de 6 hectares. Os resultados animaram a Saedo, que há quatro anos também cultiva o grão em Baixa Grande do Ribeiro, no sudoeste do Piauí, a realizar a segunda lavoura no município de Limoeiro do Norte.
O cultivo da soja no Ceará visa atender principalmente a demanda de grãos da avicultura estadual. As 32 empresas associadas da Associação Cearense de Avicultura (Aceav) consomem anualmente 300 mil toneladas de milho e 180 mil toneladas de soja (grão e farelo) para produzir 2,5 milhões de ovos por dia e cerca de um milhão de frangos por semana.
Embora a produção da Saedo seja realizada com o uso de irrigação, o resultado econômico da atividade é satisfatório, principalmente quando comparado a o custo da compra de soja em outros estados. O frete e o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) acrescentam ao preço do grão cerca de 28%.
Para trazer a soja das regiões produtoras do Maranhão ou Piauí os custos com transporte encarecem em até R$ 10 a saca de 50 quilos do grão, que chega atualmente no Ceará por R$ 45,60. "É uma diferença compensadora tanto para quem produz como para os avicultores", observa Joel Ferreira, gerente da fazenda Saedo.
Ele diz que a produtividade no Ceará tende a evoluir à medida que forem sendo encontradas sementes adequadas ao clima e solo locais. "No início, também enfrentamos dificuldades desse tipo no Piauí e hoje aquela região produz um bom volume", relata. O Ceará está adquirindo sementes dos municípios de Balsas (MA) e Uruçuí (PI).
Planos de expansão
Ferreira diz que a disposição da Saedo é continuar plantando soja no Ceará, podendo, inclusive, expandir a área de cultivo. "A limitação é basicamente área disponível para irrigação, pois, de uma maneira ou de outra, a soja é sempre vantajosa", argumenta. O cultivo da soja no município de Limoeiro do Norte é feito em sistema de rotação com o milho.
Entusiasmados com a experiência da Saedo outras propriedades rurais começam a se movimentar para plantar soja no semi-árido cearense. "Resolvemos estabelecer uma parceria com um produtor da região e estamos cultivando 35 hectares do grão", informa José Bessa Júnior, presidente da empresa Avicultura Cearense .
Segundo ele, as primeiras safras cearenses de soja irrigada devem apresentar produtividade semelhante à observada nas regiões de cerrado, com o sistema de sequeiro. Mas a expectativa é de elevação do rendimento das lavouras do semi-árido. "Basta ampliar os investimos em pesquisas e realizar novas experiências", acredita.
Na avaliação de Bessa Júnior, é possível que outras regiões do estado, a exemplo do Cariri, tenham potencial para o cultivo em sequeiro. "No Cariri chove acima da média cearense e, portanto, existe potencial. Há alguns anos também era difícil acreditar que o Piauí estaria produzindo soja".
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