IMPASSE NA AMÉRICA
Brasil supera militarmente a Venezuela, mas não na fronteira
Gigantismo do território brasileiro faria com que deslocamento de tropas e blindados levasse semanas
Os militares brasileiros não acreditam que vá ocorrer qualquer guerra entre Brasil e Venezuela. O mais provável é algum levante popular interno em território venezuelano ou golpe de Estado. Mesmo assim, é parte da função das Forças Armadas lidar com cenários. Na comparação, os brasileiros têm muita superioridade bélica em relação aos venezuelanos.
— A vantagem do Brasil é o gigantismo das Forças Armadas, as maiores da América do Sul, que levaria à asfixia do inimigo. Mas quanto maior, mais difícil o deslocamento — pondera Kaiser Konrad, jornalista especializado em assuntos militares.
Na parte terrestre, por exemplo, o Brasil tem 327 mil integrantes nas Forças Armadas. Em caso de urgência, pode solicitar incorporação de mais 600 mil policiais militares, civis, federais e rodoviários federais - que são força auxiliar do Exército. Isso dá quase 1 milhão de pessoas em armas.
A Venezuela, por sua vez, tem 123 mil integrantes nas Forças Armadas, mais 392 mil entre Guarda Nacional e milícias chavistas, chamadas "Unidades de Defesa Popular". Ou seja, metade do efetivo brasileiro.
O Brasil tem 2.020 blindados (desses, 393 de combate e o restante, transportes armados). A Venezuela tem 602 blindados, sendo apenas 173 de combate, mas são poderosos e modernos.
A artilharia brasileira, com quase dois mil canhões e obuseiros (lançadores de projéteis autopropulsados), é quatro vezes mais numerosa que a venezuelana, que tem 515 peças.
O Brasil tem 55 navios militares e cinco submarinos, a Venezuela tem 39 navios e dois submarinos.
Força aérea
Em resumo, o Brasil tem completa superioridade terrestre e naval. Mas é militarmente inferior nos céus. Apesar de ser numericamente superior em aeronaves militares (210 contra 93 dos venezuelanos), é qualitativamente inferior.
A Venezuela tem caças mais potentes e com maior alcance que os brasileiros. Os venezuelanos usam jatos russos Sukhoi-30, considerados entre os melhores do mundo. Os brasileiros têm caças antigos (os Tiger F-5) e com menor raio de ação. Em termos de ataque ao solo, brasileiros e venezuelanos usam o mesmo modelo, o Super-Tucano.
No quesito equipamentos de defesa aérea, a Venezuela possui 400, o Brasil, 100.
Com relação a foguetes, a situação é equilibrada. Os venezuelanos têm 56 lançadores múltiplos de mísseis, contra 42 do Brasil. Detalhe: a Venezuela faz sua defesa aérea em camadas.
No primeiro nível, canhões de 20mm a 40mm, que atingem aviões que voam baixo. Depois, os mísseis IGLA (portáteis), com alcance de 3,5 quilômetros. Seguem-se a eles os mísseis S-125, com 20 quilômetros de alcance. Depois, os BUK, com 25 quilômetros de alcance. E, por fim, os S-300, que atingem até 30 quilômetros.
O Brasil também tem lançadores múltiplos de mísseis, sem canhões (diferente dos usados na Venezuela). Mas não em Roraima e, sim, em Goiás, na cidade de Formosa.
O Brasil tem alguma vantagem em helicópteros. São 133, dos quais 65 de combate. A Venezuela tem 70 helicópteros - ou seja, praticamente a metade do efetivo brasileiro.
Logística
A grande vantagem dos venezuelanos é logística. São centenas de quilômetros de ponta a ponta do seu país, o que faz com que seus caças e tanques possam guarnecer todo o território nacional sem reabastecer - e até atravessá-lo em horas.
Já o Brasil vive um pesadelo logístico. Para levar os lançadores de mísseis de Goiás até Roraima são necessários 15 a 20 dias.
A maior parte dos 2.020 blindados brasileiros está no Rio Grande do Sul e no Paraná. Nosso melhor tanque, o Leopard 1A5, pesa 40 toneladas. Impossível carregá-los nos aviões Hércules, usados pela Força Aérea Brasileira (FAB), com capacidade de levar 20 toneladas. Então a saída é levar os tanques por terra até a divisa de Mato Grosso com Amazonas, depois usar balsa até Manaus, e de lá mais de 800 quilômetros por terra até a fronteira com a Venezuela. Levaria semanas.
Existem blindados mais perto? Sim. Roraima tem 12 carros de combate Cascavel e Urutu (mais usado para transporte de tropas). Mato Grosso do Sul tem 18 carros de combate e fica na metade do Brasil. Isso não é nem perto das necessidades bélicas da região fronteiriça com a Venezuela.
O Brasil recebeu em outubro 96 obuseiros doados pelos Estados Unidos, mas eles ainda não estão operando. Serão modernizados no Paraná.
Em resumo, numa guerra prolongada, o Brasil levaria vantagem. A curto prazo, demoraria a concentrar tropas.
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